Mais um estudo sobre a suplementação com vitaminas do complexo B, publicado no periódico Lancet Neurology, não comprova benefícios quanto à redução do risco vascular. Este novo estudo, denominado VITATOPS, realizado em mais de 123 centros em 20 países, e totalizando mais de 8.000 pacientes com história de AVC isquêmico ou hemorrágico ou AIT afetando o olho ou encéfalo nos sete meses que antecederam a inclusão no estudo, não encontrou diferenças significativos (15% versus 17%; RR 0,91, IC 95% 0,82 a 1,00), após 3 a 4 anos de acompanhamento, entre a incidência de AVC, IAM, ou morte por causa vascular entre os pacientes que receberam suplementação com vitamina B (ácido fólico, 25 mg de vitamina B6 e 0,5 mg de vitamina B12) ou placebo, além dos cuidados usuais.
No subgrupo dos pacientes submetidos a exames no final do período de acompanhamento, a concentração de homocisteína foi significativamente mais baixa entre os que receberam as vitaminas. Não foram observadas reações adversas sérias e não ocorreram entre os grupos diferenças significativas em relação aos eventos adversos comuns. Os autores reconheceram potenciais vieses relacionados à adesão completa ao tratamento, acompanhamento imperfeito, e período de acompanhamento potencialmente muito curto para identificação adequada ou exclusão de efeitos a longo prazo da suplementação vitamínica, mas concluíram que os resultados "não apoiam o uso de vitaminas do complexo B para prevenção de AVC recorrente".
Estes resultados se somam aos dados de outros estudos previamente publicados que também não foram capazes de demonstrar qualquer benefício da suplementação vitamínica quanto à prevenção de AVC, IAM, ou morte vascular. Entretanto, em um editorial publicado na mesma edição, o autor nota que, embora o estudo não tenha demonstrado a redução global, houve evidência de uma redução do risco em um subgrupo de pacientes, e que devemos ainda esperar os resultados de estudos em andamento e de uma metanálise usando os dados individuais dos pacientes estudados para chegar a um poder estatístico e precisão que possam estimar o efeitos das vitaminas do complexo B, lembrando que isto foi necessário no caso do tratamento antiplaquetário com aspirina, uso do tamoxifeno para câncer de mama, e redução do colesterol com uso de medicamentos.
Referências:
- Hankey G et al. "B vitamins in patients with recent transient ischemic attack or stroke in the Vitamins to Prevent Stroke (VITATOPS) trial: a randomized, double-blind, parallel, placebo-controlled trial". Lancet Neurol 2010; DOI:10.1016/S1474-4422(10)70187-3.
- Sandercock P. "Vitamin B supplements for prevention of stroke." Lancet Neurol 2010; DOI:10.1016/S1474-4422(10)70188-5.
- Toole JF et al. "Lowering homocysteine in patients with ischemic stroke to prevent recurrent stroke, myocardial infarction, and death. The Vitamin Intervention for Stroke Prevention (VISP) randomized controlled trial". JAMA 2004;291:565. http://jama.ama-assn.org/cgi/reprint/291/5/565)
- Clarke RJ et al. "Lowering with folic acid plus vitamina B12 vs placebo on mortality and major morbidity in myocardial infarction survivors: a randomized trial. Study of the effectiveness of additional reductions in cholesterol and homocysteine (SEARCH) collaborative group" JAMA 2010;303(24):2248. http://jama.ama-assn.org/cgi/content/abstract/303/24/2486
- Revisão sobre homocisteína publicada no J. Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial: http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v4on5/ao6v4on5.pdf