médica diária. Pacientes epilépticos que não aderem ao tratamento apresentam aumento significativo no número de visitas ao departamento de emergência, hospitalizações, e acidentes de carro, devido principalmente à piora no controle de crises, levando a maior risco de fraturas, queimaduras, TCE, depressão e ansiedade. Mesmo o tratamento com DAE (drogas anticonvulsivantes) está associado a riscos adicionais - efeitos colaterais relacionados à dose e também alterações de peso, deficiência de vitaminas, e osteopenia, que por sua vez também aumentam o número de visitas à emergência e internações.
O estudo retrospectivo RANSOM (Research on Antiepileptic Non-adherence and Selected Outcomes in Medicaid), publicado na revista Neurology em novembro de 2008, avaliou 33.658 pacientes com 18 anos de idade ou mais e pelo menos duas prescrições de DAE (drogas anticonvulsivantes) que residiam em Iowa, New Jersey e na Flórida, durante 9 anos e eram beneficiários do Medicaid. Os resultados foram assustadores: 26% dos pacientes não seguiam as indicações médicas, e este número aumentava para 32% quando se levava em conta apenas os pacientes com 65 anos de idade ou mais. Outros estudos encontraram dados ainda mais alarmantes: 41% dos idosos e 65% das crianças e adolescentes não seguiam as recomendações médicas quanto à posologia das medicações, e este índice era ainda mais alto no subgrupo de pacientes com comorbidades psiquiátricas.
As razões para isto são várias: desde a omissão de algumas doses por esquecimento quanto, o que é mais preocupante, a não adesão intencional, motivada por eventos adversos não relatados pelos pacientes (disfunção sexual, ganho de peso, disfunção cognitiva, sobre os quais os pacientes acham difícil falar), despreocupação após verem que não aconteceu nada após terem esquecido algumas doses do remédio, dificuldades financeiras, e também ambivalência quanto ao diagnóstico de epilepsia.
Para os médicos, fica a mensagem: devemos sempre perguntar aos pacientes como estão tomando os medicamentos, se estão apresentando efeitos colaterais, e se estão tendo dificuldade para adquirir os medicamentos, principalmente quando não estão sendo obtidos os resultados esperados, quando um esquema previamente eficaz não estiver mais funcionando ou se o paciente começar a apresentar piora das crises, após um intervalo livre delas, sem outras razões aparentes. A abordagem deve ser sempre construtiva, já que um confronto pode levar a uma negativa vigorosa, e à perda da oportunidade de uma intervenção positiva.
O plano terapêutico deve ser sempre o mais simples e descomplicado possível. Deve-se buscar identificar o problema central e a partir daí elaborar estratégias para contorná-lo, se possível. Por exemplo, para pacientes que esquecem de tomar os medicamentos, sugira estratégias como utilização de alarmes sonoros (programados no celular, por exemplo), separar as doses dos medicamentos de véspera, deixando-os em locais de fácil visualização e/ou muito utilizados pelo paciente (por exemplo, ao lado da cafeteira se o paciente tem hábito de tomar café pela manhã). Alguns laboratórios disponibilizam programas de facilitação à aquisição de determinados medicamentos mediante cadastro, possibilitando a redução do custo dos mesmos. Deve-se sempre enfatizar a importância da adesão ao tratamento, lembrando que as DAE não curam a epilepsia, apenas ajudam a controlar os sintomas, e que elas só funcionam enquando estiverem sendo usadas.
Referência: Faught E, Duh MS, Weiner JR, Guérin A, Cunnington MC. Nonadherence to antiepileptic drugsand increased mortality: findings from the RANSOM study. Neurology 2008;71:1572–1578.
Link: Recomendações do Programa de AIDS do Ministério da Saúde para melhorar a adesão ao tratamento antiretroviral (podem ser extrapoladas para outras doenças e situações): http://www.aids.gov.br/udtv/bolepide/conceitos.htm
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